Duas mil pessoas deram adeus a Lula

Euclides da Cunha teve uma segunda-feira, 30, de tristeza e dor, ao tomar conhecimento do falecimento de Luiz Agres de Carvalho, carinhosamente chamado de “Lula”, apelido que ganhou quando ainda era criança e morava na “Rua da Igreja”, atualmente Praça da Bandeira.

Da turma de jovens estudantes nascidos na década de 1940, que originou bons profissionais liberais: advogados, médicos, engenheiros, economistas, professores e professoras de nível superior, numa época de coisas muito difíceis para quem queria estudar e crescer na vida, até mesmo para as famílias tidas detentoras de posses.

Quem concluía o 5º ano primário e queria ingressar no antigo ginasial, o caminho a ser seguido era os colégios da capital, ou no Colégio Maristas de Senhor do Bonfim, um estabelecimento de ensino dirigido por padres, ainda hoje em funcionamento naquele importante município baiano, para onde seguiam de carro até Queimadas e de lá numa deslumbrante viagem de trem.

Na marinete de Zé Mendonça, seguiam para a capital, aqueles cujos pais ou algum parente podia pagar pensão e transporte urbano. De Euclides da Cunha foram muitos, inclusive Lula.

Nas férias de junho e final de ano, a garotada que aqui ficava, festejava a chegada dos estudantes que desembarcavam na Av. Ruy Barbosa, em frente ao Bar e Café Society de Zezito do Belo, um agente de viagem, alegre, divertido, irreverente, que recebia os passageiros com piadas e brincadeiras.

A meninada sabia que as animadas partidas de futebol na Rua da Igreja aconteceriam todos os dias, manhã e tarde, e, entre eles, o goleiro Lula formava entre os amigos Vavá de Zé Dantas (Dr. Oswaldo), Bandu (Dr. Hildebrando Maia), Luis de Zé Dantas (Dr. Luis Carlos), Mundinho de Detinho (Dr. Raimundo de Abreu Campos), Dantinhas (saudoso Dr. Dantinha de Zé Dantas), Zezito de Benevides (economista e professor universitário), Eliezer Bispo (Lié de Pedrinho Campos), advogado, Delço Matias (prof. Delço), além de os irmãos João e Zorildo Pinheiro, entre tantos.

À noite, quando não havia fornecimento regular de energia, a turma se reunia no Café de d. Edith, sob a luz de uma lâmpada a gás (Petromax), onde se divertia contando piada e até mesmo apostas do tipo: quem tem coragem de ir agora, ao cemitério pegar uma cruz, “façanha” conseguida apenas, por Oscar de Salomão, que não era estudante, porém, muito amigo de todos e fazia parte da turma do futebol, também.

Lula, que morava na Rua da Igreja, morria de medo de alma e, quando alguém fazia algum relato sobre as coisas do além, ele não ia pra casa, sozinho. Esperava pelo amigo Oscar, que morava na Lagoa do Mato e passava perto do cemitério todos os dias e não tinha medo.

Bons tempos, sem dúvida. De bons amigos, amizades sinceras, uma jurubebinha Leão do Norte, cordão carnavalesco puxado pelo folião Galdino Ernesto, numa época onde não se ouvia falar de drogas por aqui.

Lula concluiu o curso de Engenharia Civil e ingressou para o quadro de funcionários da COELBA. Em Euclides da Cunha foi o responsável pela execução do serviço de implantação dos postes para a rede de distribuição de energia elétrica que receberia energia hidráulica de Paulo Afonso.

Gostava de política e chegou a ocupar o cargo de vereador. Fez um bom trabalho social junto às pessoas menos favorecidas economicamente, facilitando o acesso destas, aos mais diferentes tipos de tratamento médico em Salvador; além de distribuição de cadeiras de rodas para dezenas de pessoas.

Nomeado administrador da Estância Hidromineral de Caldas do Jorro, na época, uma Autarquia do Governo Estadual, e atualmente Distrito do Município de Tucano, Lula fez muitos amigos.

Estudioso, aproveitou parte do tempo em Caldas do Jorro, para ingressar na Faculdade de Direito na cidade de Sousa - PB, de onde saiu bacharel e passou a atuar no Departamento Jurídico da Coelba.

Aposentado, mudou-se para Euclides da Cunha, onde passou a atuar como advogado em causas cíveis e de família. Também, atuou como professor de direito em uma universidade.

A política sempre esteve presente em sua vida. Além de ter exercido o cargo de vereador por dois mandatos, Lula foi vice-prefeito, em 2000/2004, quando paralelamente ocupou o cargo de secretário administrativo, por alguns meses.

Em 2005, concorreu ao cargo de prefeito, porém, não obteve êxito no pleito contra a Sra. Rosângela Lemos.

Continuou como advogado e formou os filhos Marquinhos e Luizinho, também em Direito. Foi casado com a profª Francisca Nunes Soares, com quem teve os filhos Marquinhos, Luizinho e Lorena.  Separado de Francisca, viveu com a companheira Neide, por muitos anos.

Há cerca de 90 dias, descobriu que sofria de câncer no fígado e resolveu passar por exames para tratamento. Ao ser submetido a um desses exames, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e teve o estado de saúde agravado.

Após vários dias internado em uma UTI do Hospital Espanhol, em Salvador, Lula não resistiu e faleceu na noite de domingo, 29. Antes, e diante do quadro de gravidade em que se encontrava, chegou a ter a morte anunciada em alguns órgãos de impressa de Euclides da Cunha, que foi posteriormente desmentida.

Mas, o seu estado de saúde era gravíssimo e os médicos que o assistia não acreditavam na reversão do quadro, tamanha a gravidade. Trazido para Euclides da Cunha, o corpo foi velado no Plenário da Câmara Municipal de Vereadores, onde foi homenageado por familiares e amigos, além de encomendação do corpo.

O cortejo fúnebre reuniu cerca de duas mil pessoas e após homenagens com orações, músicas e despedidas dos familiares, o caixão coberto com a bandeira do Esporte Clube Bahia, do qual era torcedor apaixonado, foi sepultado, às 17h15, no mausoléu da família.

Lula deixou saudade, pois era pessoa respeitadora, pacata e fez milhares de amigos ao longo da vida. Prefeitos, vereadores e políticos de vários municípios vieram dar o último adeus ao amigo. Foi uma segunda-feira de muita tristeza para os euclidenses, especialmente para a família Agres de Carvalho.